Entrevista com Vanessa Brunt.
Oi gente linda, estou aqui mais uma vez para postar uma entrevista super linda, da nossa querida Vanessa Brunt, Autora do "Entre Chaves".
Olá! Tudo bem? Informo, primeiramente, que adorei as perguntas! Saíram um pouco das repetitivas que eu estava respondendo nas últimas entrevistas, então fiquei super feliz! Obrigada! Em segundo lugar, peço perdão, desde já, pelo fato de ter sido bastante extensa em uma entrevista que aparentava necessitar de objetividade, porém foi como brotaram os sentimentos para as respostas. Super abraço!
01) O que você espera que as pessoas aprendam ao ler suas poesias, poemas?
Quando escrevo, desabafo e, durante esse expelir, acabo compreendendo mais sobre mim, meus sentimentos e a sociedade. E é isso o que mais desejo que ocorra com os meus leitores: que eles possam encontrar pedaços deles dentro desses fragmentos do meu coração, passando a descobrir ou a entender melhor o que desejam, o que não desejam, o que tem como valor, o que realmente guardam de dentro para fora, etc. Quero que eles observem que nenhuma história é igual. Cada particularidade dentro de cada uma, muda todo o significado, todo o peso (que para cada um, será diferente), mas espero que ao mesmo tempo eles lembrem sempre que não estão sozinhos com suas dores e flores, que eu sinto cargas parecidas com as deles, que existe muita gente que está passando por algo parecido (ou já passou) e encontrou soluções, gostos e maneiras de seguir. É isso o que ocorre, inclusive, em casos de quando ainda não escrevi sobre algo que está começando a borbulhar em mim, e então, ouvindo uma música (lendo a letra da composição), passo, por vezes, a ir captando o que realmente está ocorrendo no meu intrínseco. E vivendo e constatando, vou digerindo e anotando.
02) Tem vontade ou interesse em publicar um livro de estória? Ou prefere ficar no mundo de poetisa?
Os meus escritos cotidianos são, de fato, minhas crônicas e poesias. As escrevo por necessidade, por impulsos do precisar. Mas tenho um amor imenso também por criar contos e estórias em paralelo, vez ou outra, que denotem frutos dos meus desejos mais utópicos. Sou apaixonada pelo universo místico e adoro pensar no fato de que a magia existe. Existe dentro das nossas escolhas, da nossa força de fazer coisas incríveis por outro ser humano e por nós mesmos, de provar que o impossível é apenas um caminho ilusório para a distância do que ainda não conseguimos alcançar. Então, resumindo, sim! Tenho muita vontade de lançar, futuramente, livros de ficção. Inclusive, venho trabalhando em um pelo qual estou cada vez mais apaixonada e envolvida. O problema é que escrever um poema ou uma crônica, para mim é tiro-e-queda. É “sento e desabo”, respeitando o que senti e o que saiu através dos meus sentimentos. Em uma ficção fico mais crítica, crio algo novo o tempo inteiro e fico achando que nunca vou terminar, porque sempre vou ter alguma nova criação dentro daquela estória... É um universo inteiro e infindável para desvendar. Então, agora estou focada no que sempre vou escrever, que são meus textos e poemas, mas afirmo que pode vir, em breve, algo nessa linha mais imaginativa.
03) Se pudesse agradecer apenas uma pessoa, por estar nesse mundo literário, quem seria?
Não existem escritores na minha família, ninguém que trabalhe em áreas que envolvem dons de escrita e nem alguém que me apresentou ao mundo poético. Escrever constantemente, foi algo natural que surgiu dentro dos meus diários, dentro das minhas agonias de ter uma terapia própria, de desabar no que faço desde quando nem me lembro. Eu agradeceria a todos os que já me trouxeram inspirações, sendo os bons e os ruins (que acabam, obviamente, trazendo uma bagagem positiva no fim das contas, como ocorre em tudo). Mas se for para citar uma pessoa que me incentivou, de fato, a desejar levar o que escrevo para o mundo, sem dúvidas eu afirmo que foi o meu pai.
Lembro que aos 12 anos comecei a escrever muitas músicas, colocando melodias nos meus poemas, e então eu “resolvi” que queria ser cantora. Cheguei a iniciar a aula de violão, mas eu nunca tive vocação para o canto, nunca tive voz, apesar de ter a poesia, o sentir. Então, o meu pai me chamou para conversar e disse: “Você escreve só músicas? Não. Você escreve poemas que, muitas vezes, não transforma em canções, escreve frases que não viram poemas, escreve textos... O que você vai fazer com tudo isso? Vai mostrar para as pessoas só essas poesias que são músicas? Lembra que o que mais me ajudou foi aquele texto seu? Você não pode cantar seus textos e eles também podem ajudar muita gente. Você é, acima de tudo, uma escritora”. Acho que esse dia, em conjunto com uma sessão de outros fatores, foi um dos que mais clareou a minha mente para o que precisava e desejo fazer até o fim da minha vida.
04) Tem alguém em que se inspira ao criar seus lindos textos?
Primeiramente, obrigada pelo elogio! E, bom, todos os meus textos e poesias nascem de experiências próprias, seja através de algo que vivi ou de algo que vi alguém próximo passando por, algo que de alguma forma que foi capaz de mexer comigo, de mesclar com algo que já senti e criar um turbilhão intenso aqui dentro. Então, o fato é que sempre estou inspirada pela existência de pessoas reais, tanto as que me fazem ou fizeram sorrir, quanto as que me fazem ou fizeram chorar. E, obviamente, todos estamos sempre inspirados por isso, é de onde mais retiramos a nossa evolução e mais descobrimos o que não faz parte de nós: extraímos dessa troca, dos relacionamentos. A graça é saber usar isso sem vitimíssimos acomodados, mas sim cabendo nos seus novos atos, nos seus trabalhos, nos seus futuros.
05) Seus pais te apoiaram/apoiam a escrever? E seus amigos, o que falam de ter uma amiga escritora?
O meu pai, como eu já disse, sempre trouxe incentivo para mim. A minha mãe, familiares e amigos de infância, foram acostumados desde quando eu era mínima - o tamanho não mudou muito, mas tudo bem. (Risos) - a receber diferentes tipos de cartas minhas, a assistirem “apresentações de teatro” que eu escrevia, colocando as minhas amigas para apresentarem, e por aí vai. Todos sabiam da minha urgência em escrever, e respeitavam, como ainda respeitam, quando eu paro no meio de uma conversa e corro para pegar um papel e uma caneta, parando para escrever ali mesmo, seja onde for. Acho que por ser algo costumeiro e esperado, todos sempre tiveram a inclinação em aceitar e apoiar. A minha mãe, que é mais realista, nunca abandonou o discurso de que eu deveria fazer projetos que unissem a minha escrita além dos livros, que eu precisaria ter um emprego fixo além de somente lançar as minhas obras. E essa ideia de ter garantias é básica, obviamente. Se você tem uma base financeira fazendo o que gosta, ainda que não com a totalidade que gostaria, você vai ter a possibilidade, de com isso, produzir diversos fatores de mais completude. Pensando nisso que faço faculdade de jornalismo, na qual trabalho na área opinativa, mais livre para construção, podendo caber crônicas, etc. Uma coisa abre portas para outras e temos que saber entrelaçar.
O fato é que ainda que os meus pais não me incentivassem, eu iria continuar escrevendo e a vida iria empurrar meus escritos para os meus leitores de alguma maneira, porque eu não iria parar. Foi de tal maneira que pude e posso entender quem sou, por isto afirmo que com ou sem o ânimo dos outros, relevante mesmo é não se permitir frustrar pela não busca de uma aspiração que você imagina como algo que gostaria desde já. Se você não consegue se visualizar agora, neste instante, fazendo “tal coisa”, se só pensa na cena de você atuando naquilo daqui há anos, o caminho tem problemas aí... O seu emprego tem que ter a ver com a sua personalidade, com as suas manias, com as suas visões de mundo, cabendo em desejos que podem ser construídos com tempo e cautela, mas que devem dar a capacidade de manter-lhe sem desgosto nas horas dos “perrengues” que toda área terá. Que vão dar aquele ar de “tudo bem, isso faz parte de quem sou, então, vamos em frente”. E não há quem possa definir esse tipo de escolha para você. Há quem possa dar dicas, ajudar a clarear caminhos... Mas só quem sabe tudo sobre você é quem pode apontar. E quem é essa pessoa?
Nossa, saí completamente do foco? Vou finalizar. Sobre os meus amigos, bom, eles são fissurados por acharem situações da vida deles dentro dos meus escritos, dentro das minhas próprias vivências... Eles enxergam ângulos que encaixam diversas experiências diferenciadas em um só texto ou poema. E quando alguém próximo a mim diz que um desabafo meu em palavras foi o que salvou o seu dia ou que foi a melhor identificação que já ocorreu em anos, é quando me deparo com o maior porquê cabível nos motivos pelos quais compartilho os meus temas tão pessoais.
06) Em algumas livrarias, o "Entre Chaves" foi um dos mais vendidos, com esse sucesso todo, o que espera com o próximo livro "Depois Daquilo"?
Ai, isso é algo que não acredito até hoje! Fico boquiaberta quando penso sobre como escritos antigos e tão “escondidos” meus, puderam invadir mentes e corações de tantos que agregaram a eles, identificações. Contudo, mais do que em relação a vendas, que é o que penso em segundo plano, o que mais desejo em relação ao Depois Daquilo é que os meus leitores que adquirirem a obra, possam encontrar as veias deles tanto nos escritos menos extensos, como nos mais detalhistas, e que podem ser até vistos como rebuscados. Minhas metáforas prosseguem, como prosseguirão sempre, em tudo o que escrevo, porém o Depois Daquilo aponta mais a variedade da minha escrita. O Entre Chaves, assim como as minhas coletâneas antigas, foram obras “muito mais poéticas”, com escritos que podem ser analisados como remetentes a uma linha estilística densa. O fato é que nunca coloco uma palavra ou vírgula sequer para impressionar ou cativar intencionalmente nos meus destrinchares, isso seria forçar, e esse tipo de tentativa tira a verdade que existe em uma arte. Deixo que as palavras saiam como a sensação ordenar, e acho que no Depois Daquilo essas diferenciações de uma forma de expelir para outras, ficam mais nítidas. É a primeira obra que vou lançar que contém tantas crônicas e frases, com poesias mais intercaladas, e estou ansiosa para que os meus leitores possam ter em mãos essas minhas outras maneiras de falar, que fazem parte do meu cotidiano tanto quanto um poema esteticamente dito. Não deixando de constatar que a poesia mora em tudo o que escrevo, sem escapes. Ela é olhar para um sapato e enxergar uma casa inteira, é olhar para um teto e apontar mil e um significados aos quais aquilo pode ser atrelado, e é isso o que deixa a vida mais leve: saber olhar para mais de um lado.
07) Fale uma frase que escreveu, que te marcou, aquela que tem um pedacinho especial no seu coração.
Sou péssima para escolher algum escrito dentre os meus próprios escritos. Tenho carinho e críticas por e para todos eles... Mas o que acontece é que raramente escrevo frases super curtinhas. Em geral, as minhas frases que circulam pela rede são fragmentos de textos ou poemas meus que os meus leitores “cortaram”, o que acho maravilhoso, porque significa que foram os fragmentos com mais densidade para eles, coisa essa que não sei analisar dentro dos meus próprios desafogos. Então, tem uma frase que escrevi recentemente que foi tão pequenina e resumiu o que daria para eu escrever em um texto ou um poema inteiro e de tamanho extenso. Eu tinha entalado o pesar, e em um estalo anotei no meu bloco de notas: “Transbordo em tudo. Fico onde couber.”. Acabou sendo mais do que uma frase que escrevi pensando em um recado que queria dar para outra pessoa, acabou virando uma das minhas mais sucintas definições de mim mesma. Então, sim, escolho ela. Por enquanto (risos).